terça-feira, 22 de abril de 2014

Uma vida inteira quebrando pedras e plantando flores!


Cena do espetáculo Cora Coralina.
 Grupo teatral paulista reproduz a vida e as obras de Cora Coralina no Festival de Teatro de Curitiba

Por Julmara Mendes


A última apresentação do monólogo “Cora Coralina”, em 6 de abril, ocorreu no SEEC – Auditório Brasílio Itiberê. Na ocasião, o público demonstrou a satisfação em assistir ao espetáculo com uma longa salva de palmas. A atriz Ana Maturano foi ovacionada de pé pelo público presente.

A peça conta, em uma verdadeira viagem através da poesia, como Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas - nome de batismo de Cora Coralina - retornou à sua cidade natal após 45 anos. Um cenário simples, que retrata uma casa do final do século XIX, contrasta com as projeções de vídeo ao longo da apresentação através de uma tela que separa a plateia e o palco. 

Maria Lucia e o marido Paulo Jorge.
Desta forma, o espetáculo cria um clima de magia, com uma mistura de realidade e fantasia que encanta o espectador: “Excelente! Muito bem elaborada e conduzida, com textos da própria Cora. Fez com que me sentisse na sala da escritora, conversando com ela sobre sua obra e sua vida”, afirma a farmacêutica Maria Lúcia Jorge, 53.

De Jacareí para Curitiba 

A Cia Teatro do Interior foi fundada em 2008, na cidade de Jacareí, em São Paulo. A peça utiliza apenas textos, entremeados com as poesias da autora. Isso faz com que as pessoas que conhecem os trabalhos de Cora Coralina os reconheçam de imediato ou então, para os que desconhecem as obras dela, quando assistem à apresentação, acabam por conhecê-las. 

Aos 58 anos, Ana Maturano é a atriz que interpreta Cora Coralina. Técnica de Agropecuária e Tecnóloga em Gestão Ambiental, Ana trabalha na prefeitura de Jacareí e atua na Cia Teatro do Interior somente à noite e em fins de semana. “Todos os dias eu falo pelo menos uma vez o texto todo sozinha, em casa, para não esquecer”, conta ela, matando a curiosidade de todos os que se admiram ao vê-la falar - sozinha e quase sem parar - por cerca de 80 minutos. 
Ana Maturano, na escura sala em que Cora escrevia.

Os textos e poesias recitados durante a peça se completam com os efeitos multimidiáticos apresentados a cada episódio da vida da poetisa. Ao final, o público é presenteado com uma “experiência multisensorial” - conforme definição dos próprios organizadores do grupo teatral – e é considerada uma grata surpresa para quem assiste. 

Por isso, a reação do público não poderia ser diferente, ante a beleza e a forma singela com que a vida de Cora Coralina é retratada. A dica é que vale muito à pena conferir este espetáculo. Para ovacionar, de pé, o talento da companhia paulista. 

  
Curiosidades sobre Cora Coralina:


Inventou o dia do vizinho.
Foi uma das primeiras mulheres brasileiras a usar o “eu feminino” em suas poesias.
E a utilizar a poesia branca, sem rimas, antes do modernismo.
Cora Coralina escreveu o seu próprio epitáfio.
Instituto Agronômico de Campinas, numa ação conjunta com a Agrícola da Ilha, de Joinville, batizou uma flor em sua homenagem: a Hemero-callis Cora Coralina.
Existe também uma mariposa com seu nome, descoberta por Nirton Tangerini – entomólogo de Goiás – a Molippa coracoralinae.

Fonte: Cia Teatro do Interior

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Comédia discute a morte e outros medos da humanidade

Cena do espetáculo "Cordel de morte morrida (e às vezes matada)”
Por Mayara Cardoso

Apresentada na manhã do dia 29 de março, na Praça Rui Barbosa, a peça de rua “Cordel de morte morrida (e às vezes matada)”, é uma comédia que se passa numa cidade bem distante, onde aconteceu uma tragédia. “Quem matou James Garcia?” Na trama, há quatro suspeitos: a viúva, a sobrinha, a médica e a mística. Elas contam suas histórias ao público, que decide ao final qual delas o matou. A comédia brinca com o medo e abusa de frases que levam o público a refletir. 

Patrícia Dutra e a prima, Camila Bernardes.
A peça carioca está no Festival de Teatro de Curitiba pela segunda vez. A primeira foi em 2013, com elenco diferente. A atriz Luciana Ezarani é autora do texto, diretora e também criadora do grupo teatral “As Lucianas”. Ela conta a alegria de estar pela oitava vez em Curitiba e diz que sempre procura estrear suas peças na capital paranaense. “Aqui tem um público muito receptivo, inteligente e cultural”.

A advogada Patrícia Dutra, 41 anos, diz que o teatro tem grande importância, principalmente em levar cultura ao povo. Por isso, costuma marcar presença em vários espetáculos do Festival de Curitiba. Em 2013, ela conferiu quatro apresentações. “No Brasil, o acesso à cultura é precário e o festival é democrático e verdadeiro”. Amante de teatro, Patrícia convidou a prima, Camila Bernardes, 23 anos, de Joinville, para vir a Curitiba no final de semana e assistir algumas peças do evento.

Trama

“Cordel de morte morrida (e às vezes matada)” é uma peça muito alegre, que interage com o público e possui muita música e dança, apesar do tema pesado, que nos leva a refletir sobre a morte. O começo da peça mostra James Garcia, um homem charmoso e mulherengo, que costumava bancar a vítima e jurava amor eterno para todas as mulheres. Numa sexta-feira 13, ele visitou uma mística e descobriu, pelas cartas, que tinha apenas 13 horas, 13 minutos e 13 segundos de vida. 

Cena do espetáculo "Cordel de morte morrida (e às vezes matada)”

A primeira suspeita é a exibida viúva, que assim como o marido, se faz de vítima o tempo todo. A personagem esteve na cadeia por outros crimes, que segundo ela, não cometeu. A segunda suspeita é a médica, uma potencialmente mulher má. Em sua história, a vilã conta que James não quis tomar o remédio, então pegou a seringa e ele desmaiou, por que não podia ver sangue. 

A terceira no banco dos réus é a mística, uma mulher misteriosa e compara sua vida a um livro aberto. Foi ela quem deu a notícia de que faltava pouco tempo para sua morte. A última suspeita é a criança, uma menininha dócil e sobrinha de James. A menina conta que o tio sempre lhe assustava com histórias para dormir. Por isso, certo dia ela se vingou e trancou o tio para fora de casa. 

Elenco

O ator Vinicius Mousinho.
Nascido em João Pessoa, na Paraíba, o ator Vinicius Mousinho, 28 anos, estreou na peça no sábado (29) e participou do seu primeiro festival. O artista, que tem participações no cinema, conta que a experiência no teatro de rua é sensacional. “O calor do público e a resposta imediata de suas emoções são muito diferentes do que vivemos no cinema”. 

Ele atua desde os 17 anos, quando entrou numa peça da escola para “cobrir buraco”. Foi paixão à primeira vista. O ator mudou-se para o Rio de Janeiro e há três meses estuda teatro na cidade maravilhosa. 

Mousinho afirma que o teatro de rua traz uma magia para as pessoas e gratuitamente. “Com o teatro de rua, todos tem acesso à cultura. Quando veríamos um morador de rua dentro de um teatro?” 

Veja mais fotos do espetáculo: 

terça-feira, 15 de abril de 2014

Grupo baiano é prejudicado pelo clima de Curitiba

Ensaio da Companhia de Teatro Baiana.
Por Sara Erthal

A programação de peças do Fringe envolveu a uma mostra somente da Companhia de Teatro Baiana que, por causa do clima chuvoso de Curitiba, muitas peças sofreram com atrasos e até cancelamentos. Em uma das sessões, o espetáculo teve que ser transferido para um lugar com cobertura adequada, o que alterou os horários previstos das demais apresentações.

Com curadoria do ator baiano Lázaro Ramos, sete peças ocuparam o palco do Teatro José Maria Santos, o Centro Cultural Sesi Heitor Stockler de França e o Largo da Ordem, entre os dias 26 de março e 6 de abril.

Grupo utiliza instrumentos musicais nas apresentações.
A mostra baiana é encenada pela companhia formada por Claudio Machado, Fred Alvin, Gordo Neto, Manu Santiago, Márcia Lima e Ramona Gayão. Em entrevista ao Capital Cultura, os atores contam como é realizar um teatro aberto. A principal dificuldade está em montar o cenário. Com uma estrutura muito grande, adaptar-se ao local da apresentação se torna mais difícil. O grupo ainda enfrentou dificuldades no som e nos aparelhos usados, mas falam sobre as apresentações com muita alegria. Todos os atores afirmam que esse processo é um desafio, e que levar a arte até as pessoas é muito gratificante.

A participação da mostra baiana em um dos maiores festivais de teatro do país tem como intuito de promover o teatro baiano, investir em sua visibilidade e acessibilidade, estimular o intercambio e apresentar sua potencialidade dentro do estado e também em nível nacional e internacional. Os espetáculos apresentados no Festival de Curitiba foram Uma Vez, Nada Mais, O Circo de Soleinildo, Entre nós – Uma Comédia Sobre Diversidade, Grand Théâtre: Pão & CircoDestinatário Desconhecido, Um Piano, o Bolero e a Galinha O Segredo da Arca de Trancoso.

* Este texto foi feito após a Companhia de Teatro Baiana permitir que o Capital Cultura assistisse a um dos ensaios de suas peças. 

Com paquera na praça, "Velhos amigos" traz interação com o público no Largo da Ordem

Por Bruna de Oliveira

A peça Velhos Amigos trouxe para Curitiba uma energia muito boa ao público. Apresentada nas ruas do Largo da Ordem, as personagens da peça interagem com o público através de uma prática utilizada pelos antigos, o famoso “footing" - uma forma de paquerar em volta da praça com uma rádio instalada ao centro.

A história é contada por três personagens: Celina Rosa, Geraldo e Willian. Esse trio de velhos amigos faz reflexões sobre a idade, relembram suas vidas de quando eram jovens e contam histórias vividas. A interação com o público é um ponto fundamental no espetáculo, pois as personagens da peça separam os homens das mulheres para começar a prática da paquera, o chamado footing. No decorrer da peça, elas contam suas histórias de vida e apontam o fato de como a velhice pode ser boa ou ruim, terminar a vida com alguém ao seu lado ou sozinho com a solidão.

 Um dos objetivos dessa peça é que as pessoas pensem sobre a velhice e que se imaginem daqui a 50 anos ou mais. Daiane Boda, 27, atriz e historiadora, conta sobre a experiência de apresentar um espetáculo nas ruas das cidades: “acho que cada um tem uma forma de se expressar no mundo, e a minha forma foi essa, o teatro de rua. Gosto do teatro de rua pelo fato de interagir com as pessoas". Já o ator Danilo Caputo, 28, diz que participar da peça é uma forma de promover a comunicação entre as gerações. “Escolhi ser ator desde a época de meu colegial. Foi nesta profissão que encontrei a forma de passar ao público de como a velhice pode ser para os mais jovens", afirma.

O figurino e cenografia também eram elementos utilizados na encenação. Os cenários da peça são compostos por um banheiro, uma cozinha e uma sala. Os móveis, em tons amarelados, combinavam com as roupas das personagens, que trazem a sensação de velhice causadas pelos tecidos e tons apagados. Já o tom de vermelho era apresentando quando os atores relembravam algo - ou seja, simbolizava a memória.

Mais de 80 pessoas pararam para assistir ao espetáculo. Jovens, idosos e até crianças participaram da dinâmica. Algumas senhoras que passavam pelo local pararam para assistir à peça e se divertiam com a representação da velhice. Com isso, os atores pareciam estar satisfeitos com a emoção e a alegria que transmitiam ao público.

Cena do espetáculo "Velhos Amigos".
* No Capital Cultura, apostamos na pluralidade de perspectivas culturais. Portanto, a peça analisada neste texto também foi resenhada pelas repórteres Cinthia Takei, Gabriella Maciosek e Gabriela Stall.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Erro em divulgação prejudica apresentação de grupo mineiro

Cena do espetáculo "Morte e Vida Severina".
Por Charles Ramos

O clássico texto nacional de João Cabral de Melo Neto, Morte e Vida Severina, rendeu uma apresentação espetacular pela Cia. Arte Jovem, de São Lourenço, em Minas Gerais. No entanto, poucas pessoas conferiram a peça gratuita da plateia do Auditório Brasílio Itiberê, no centro da cidade, por causa de um erro de informação da organização, que a anunciou para meia noite do dia 5 de abril e não às 20h, como efetivamente ocorreu. 

Em entrevista com a reportagem, Patrícia Cipriano, um das produtoras do grupo, justificou que o horário correto foi enviado para divulgação do Festival de Curitiba. Mesmo assim, houve confusão. “Morte e Vida Severina” foi dirigido por Rodrigo Rosa e retrata as dificuldades do povo nordestino com a seca a fome. A narrativa conta também a trajetória dessa população em busca de uma vida melhor. 

O jovem Diego Max, que estava no público, considera que a peça teve uma apresentação emocionante. “Quase chorei”, confessa. 

A atriz Fernanda Garrido considera que isso traz uma vantagem ao grupo, que enxerga o Festival de Curitiba como uma experiência única. “É o maior evento do tipo na América Latina. Valeu o sacrifício para chegar à cidade, pois tivemos que bancar o transporte”, afirma. O diretor Rodrigo Rosa disse participar do festival é uma experiência importante, mas reclama da organização. “Falta divulgação dos espetáculos menores e apoio aos grupos participantes em questões técnicas”. Patrícia revela que, por ter várias peças acontecendo ao mesmo tempo, fica difícil dar suporte aos grupos. Por isso, as apresentações precisam ocorrer no horário previsto, pois ninguém será prejudicado.

Veja imagens e um vídeo da peça:


Companhia moderniza peças de Shakespeare para o século XXI

Peça do Fringe arranca gargalhadas do público com participação inesperada

Por Julia Mass e Mirian Villa

A companhia “Coletivo Shakespeare Livre”, de Blumenau, SC, participou da mostra Fringe com o objetivo de levar os clássicos de William Shakespeare para crianças e jovens de todas as idades através de peças adaptadas para uma linguagem mais leve, moderna e divertida. A companhia participa do festival há cinco anos e nesta edição trouxe uma adaptação do livro “Rei Lear”, apresentado no Largo da Ordem e na Praça Santos Andrade. 

Originalmente uma tragédia, o texto foi adaptado para a peça com dança e música. A secretária Luciane Cooper, 42 anos, disse que em questão do alto valor para ter acesso à cultura, hoje em dia é importante contar com projetos como o Fringe, que incentiva a cultura de fácil acesso para todos. Luciane, que tem duas filhas pequenas, diz que sempre que possível as leva para que vivenciem essa experiência, que é de fundamental importância na formação da sociedade.

Durante o espetáculo apresentado no dia 29 de março, que contava com 176 pessoas entre crianças e adultos, foi possível presenciar um exemplo da diversidade da cidade e de como ela atinge a população. Um morador de rua interagiu com os atores, o que gerou surpresa e muitas gargalhadas do público.

A diretora do espetáculo, Nadege Jardim, 43 anos, diz que a mostra Fringe é uma vitrine para as companhias de todos os estados do país e gera um grande retorno. A diretora também citou a importância do estado criar e patrocinar projetos culturais. Assim, geram-se oportunidades no teatro apresentado nas ruas e na interação entre atores e cidadãos comuns de várias classes, que muitas vezes não teriam acesso a esse tipo de cultura se não existissem projetos como esses.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Cafezinho à moda antiga no Largo da Ordem

Cena do espetáculo "Velhos Amigos", apresentado no Largo da Ordem.

Por Cinthia Takei e Gabriella Maciosek (matéria) e Gabriela Stall (fotos)

A peça de rua Velhos Amigos, apresentada pelo grupo Bolinho (São Paulo) foi encenada no último sábado (6) no Largo da Ordem, no centro histórico de Curitiba. Voltada para o público adulto, a encenação encantou também as crianças com dinamismo e interação constante com o público. 

A história se inicia com a comemoração dos 50 anos da rádio Guaraná com Rolha, em que a banda "Velhos Amigos" é convidada para se apresentar. O grupo é composto por três integrantes, Geraldo (Daniel Caputo), José William (Alexandre Ilha) e Celina Rosa (Diane Boda). No meio da apresentação, os personagens contam como é passar de suas vidas e a relação com a inevitável velhice, contando suas histórias por meio de três cenários: uma sala, uma cozinha e um banheiro. 

Durante a apresentação, as idas e vindas entre o passado e o presente dos personagens rendem o tal dinamismo da narrativa. A interação com o público se torna fundamental para os atores, que convidam os expectadores a participar do footing (método antigo de paquera) na praça. Além disso, rola até um cafezinho na frente do Cavalo Babão – marco na escultura bizarra de Curitiba –, que serve para familiarizar e aproximar as pessoas dos artistas. 

O espetáculo arrancou risos e lágrimas do público ao contar as histórias de vidas dos personagens que abordaram assuntos como dificuldades físicas, o abandono, a saudade e seus relacionamentos. O casal de amigos, Richardson, 27 anos, e Silvia, 26 anos, que acompanharam várias apresentações do Festival de Teatro, estavam passeando pelo Largo da Ordem e, por acaso, decidiram parar para assistir a peça. “Até o momento essa foi a melhor peça de rua do festival”, afirmaram. 

Os atores também ficaram satisfeitos com a apresentação. Segundo eles, foi uma experiência curiosa se apresentar em Curitiba. “Essa história de curitibano ser fechado não é verdade”, disse um dos artistas. Ao ser questionado sobre as expectativas e a reações do público curitibano, um dos atores comenta bem humorado que o público foi com "nota oito". 

Veja mais fotos da apresentação:

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Idosos em cena em "E toda vez que ele passa vai levando qualquer coisa minha..."

Cena do espetáculo "E toda vez que ele passa vai levando qualquer coisa minha..."
Por Manoela Tkatch

A peça  E toda vez que ele passa vai levando qualquer coisa minha... conta a história de pessoas que vivem em uma estação de trem abandonada, com a esperança que o trem pare e as acolha. Os personagens, de alguma maneira, tiveram a vida prejudicada pelo fechamento da estação de trem, cada qual com sua história.

Encenada pelo grupo Delirivm Teatro de Dança, de São Simão/SP, o espetáculo marca a sexta participação da companhia no  Festival de Teatro de Curitiba e conta com nove idosos no elenco. “Trabalhar com idosos é prazeroso. Os ensaios ocorrem duas vezes por semana, com ou sem espetáculos marcados”, diz João Butoh, diretor e criador da peça.

Ainda de acordo com Butoh, o número de pessoas na plateia nunca pode ser previsto. Muitas vezes as pessoas veem os integrantes montando o cenário e param para assisti-la. Stella Pasquini, uma das atrizes, contou que adora participar do espetáculo e que já é a sexta vez que ela vem para Curitiba. Já a atriz Maria Aparecida Pereira comentou que a arte transformou sua vida, pois ajuda na saúde e traz a oportunidade de conhecer vários lugares.

Por causa da chuva, o espetáculo, que teria início às 10h30, acabou atrasando em quarenta minutos. O local marcado era o Relógio das Flores no Largo da Ordem, mas os atores e a plateia se direcionaram para o Memorial de Curitiba fugindo da água.

A plateia era composta por adolescentes, crianças e adultos. Em razão do atraso, das 70 pessoas que começaram a assistir ao espetáculo, apenas 30 permaneceram até o fim. “Gostei muito desta peça, é a primeira vez que a assisti e com certeza vou assisti-la novamente amanhã, até porque a minha filha também gostou e prestou muita atenção”, disse Angela, uma das espectadoras.

Chuva levou apresentação para dentro do Memorial de Curitiba.
Para mais informações sobre a companhia, acesse o site: www.butoh.com.br.

"Anjo da Luz" experimenta linguagens para tratar da origem do mal

Cena do espetáculo "Anjo da Luz".
Peça mostra desde a queda de Lúcifer na terra até a sedução pela maçã de Adão e Eva

Por Mirian Villa e Julia Maas

O espetáculo Anjo da luz, dirigido por Luiz Antônio Freitas, 22 anos, apresentou nas Ruínas São Francisco um monólogo sobre as possíveis personificações de Lúcifer, a origem do mal na humanidade e a tentação pelos pecados capitais. Com teor crítico, a peça já foi premiada três vezes como melhor texto em festivais no estado do Mato Grosso.

O grupo Teatro ao Extremo vem da cidade de Primavera do Leste, Mato Grosso e foi criado com o intuito de explorar as mais diversas possibilidades da linguagem teatral, a partir da abordagem de temas, construções de personagens e textos para o desenvolvimento teatral. A companhia é conhecida pelas montagens em espaços alternativos, o que possibilita ao público de a vivência de experiências próximas da poética que buscam transmitir.

Anjo da Luz teve três apresentações,que reuniram públicos de tamanhos variados. Para Freitas, participar do Fringe - setor especial do Festival de Teatro de Curitiba que é aberto a todas as companhias que se interessarem -  é muito democrático e gera oportunidades tanto para os grupos como para quem vai assistir às peças.

Maria Cardoso, 60 anos, aposentada, veio de São Paulo especialmente para assistir ao Festival de Teatro de Curitiba. Segundo ela, a peça aborda um tema sério que ganha valor pelo contraste de ser apresentada na rua.

Veja outras imagens da apresentação:

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Espetáculo relembra trajetória de Dorival Caymmi

Público sentou no chão para ver o espetáculo na Praça Rui Barbosa. 


Por Felipe Marques

No aniversário de Curitiba, em 29 de março, os baianos foram o destaque da praça Rui Barbosa, no centro da cidade. Isso porque a peça O que é que esse baiano tem? retratou um pouco do estado nordestino, ao narrar a história do músico Dorival Caymmi. A homenagem ao artista faz referência ao centenário de seu nascimento, comemorado este ano.

O espetáculo conta a vida de pescadores, personagens de romances e outras personalidades que fizeram parte da trajetória de Caymmi, que transformou sua terra em poesia com suas canções. Na apresentação, um público rotativo de 150 pessoas foi, aos poucos, se afeiçoando à peça. Ao fim, houve aplausos e muitos risos.

A estudante Jéssica Kiem, 15 anos, afirma que durante a encenação aprendeu várias coisas que devem ajudar no vestibular, que enfrenta no fim do ano. “Eu achei bem legal. Só havia escutado falar de Dorival Caymmi e tenho certeza que, se cair algo sobre ele nos vestibulares, vou me dar melhor”.

O primeiro grande sucesso do compositor “O que é que a baiana tem?” foi cantado por Carmen Miranda, em 1939. A canção marcou o começo da carreira internacional da Pequena Notável vestida de baiana, influenciou também a música popular dentro do Brasil, tornou-se conhecida a ponto de ser imitada e parodiada. Vários nomes relevantes da literatura brasileira, como Jorge Amado e entre tantos outros citados. Tudo para mostrar a importância de Caymmi, nem sempre lembrado como cânone em nossa cultura.

Veja mais fotos e vídeos da apresentação:


 

terça-feira, 8 de abril de 2014

A Corte do Fidalgo brinca com as convenções formais e agrada crianças e adultos

Cena do espetáculo "A Corte do Fidalgo".
Com truques batidos, e interpretações toscas, o palhaço Fidalgo trouxe para Curitiba um jeito diferente de se fazer uma corte


Por Camile Kogus

Fazer uma criança rir é uma tarefa difícil em uma época na qual a tecnologia modifica as experiências da nova geração. Para um adulto, então, é quase impossível, mas isso não foi desafio para o palhaço Fidalgo, que se apresentou abaixo de chuva no pátio da reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR), no último dia 30.

Cena do espetáculo "A Corte do Fidalgo".
A peça "A Corte do Fidalgo" trouxe à Curitiba a tradicional mágica do palhaço, que se coloca em situações de ridículo para alegrar seu público. Mesmo com a conhecida chuva Curitiba, dezenas de pessoas se amontoaram em tapetes e bancos de praça cobertos por uma lona, para assistir às peripécias de um palhaço que decide provar sua coragem e confiança em busca de uma corte para si.

Segundo Marcos Gabriel Freitas, diretor e protagonista da peça, o grande objetivo é justamente satirizar o jeito "pomposo" das antigas cortes reais, por meio da criação de uma  nova corte, totalmente diferente, alegre, divertida e sem preconceitos. "Essa imponência e metidez das antigas cortes às vezes as torna ridículas pra gente, então eu quis buscar isso por meio da dessa ideia do palhaço ser ridículo e atrapalhado", afirma Freitas.


Truques de mágica surrados, interpretações exageradas e as conhecidas gírias curitibanas fizeram parte da apresentação que, além disso, também contou com venda de pipoca e refrigerante no local. A artista Deise Correa veio de Santa Catarina com sua família para prestigiar o Festival de Teatro de Curitiba, e por acaso acabou sabendo da peça. "A gente estava no shopping vendo a programação do festival e vimos que dava tempo de vir pra Corte do Fidalgo. Valeu muito a pena, a peça foi ótima", conta Deise.

A Corte do Fidalgo foi apresentada pela primeira vez no Festival de Teatro de Curitiba 2014 e tem direção de Marcos Gabriel Freitas, sonoplastia de Letícia Freitas, e organização da Cia dos Palhaços.
Cena do espetáculo "A Corte do Fidalgo".

Mefisto: a arte do desconforto

Cena do espetáculo Mefisto.
 Com poucas cenas e efeitos, peça consegue provocar os mais variados tipos de náuseas

Por Camile Kogus
 
Ao assistir a peça Mefisto, a primeira sensação que tive foi uma extrema vontade de vomitar. O barulho agudo, a escuridão profunda, e a imagem de um homem respirando gás tóxico, por algum motivo, me deixaram com uma sensação de náusea gigantesca. Me deixar desconfortável é uma tarefa difícil, pois já assisti aos filmes "Centopéia Humana" e "Hannibal - A Origem", sem sequer ficar enjoada, mas Mefisto me deixou desse jeito.
 
A peça foi exibida durante o Festival de Teatro de Curitiba 2014, no dia 30 de março, no Teatro Londrina. Pela linguagem hermética, era difícil entender muitos elementos além da referência ao nazismo, mas o que chamou a atenção foram as sensações causadas em 40 minutos de apresentação.
 
Cena do espetáculo Mefisto.
Em total breu, as cenas aparentemente sem nexo ou ligação alguma causam diferentes tipos de desconfortos. A sensação de ser observada, náuseas, nojo, desorientação, tudo isso eu senti naqueles intermináveis 40 minutos, e no fim, a peça acabou tão inesperadamente quanto começou. Segundo Marcelo Ferreira, diretor da peça, essa é justamente a intenção, trabalhar com metáforas baseadas nas obras “Mephisto”, de Klaus Mann, “Fausto”, de Goethe, e à coreografia homônima de Magno Godoy de 1987. "Eu parti dessas referências,  mas não queria fazer um roteirinho e segui-lo. A intenção é trabalhar com as imagens metafóricas", afirma Ferreira.
 
Para a estudante de teatro Mariane Cristine da Silva, de 18 anos, a peça serviu para conhecer outros estilos teatrais. "Essa peça não faz muito o meu estilo, mas eu vim vê-la justamente para inovar um pouco o conteúdo que eu já conheço. Não entendi muita coisa, mas achei muito bacana a montagem do espetáculo, os detalhes, a estrutura do em si".
 
Apesar da decepção de não ter entendido a peça, gostei de ter a oportunidade de conhecer outros estilos cênicos de apresentação, mas continuo preferindo espetáculos que não me dêem vontade de sair correndo em direção a um banheiro para vomitar.
 
Cena do espetáculo Mefisto.