quarta-feira, 1 de julho de 2015

A Loucura Entre Nós: um debate sobre os limites da sanidade

Cena de "A Loucura Entre Nós". Foto: Reprodução. 
Documentário dirigido por Fernanda Vareille reúne histórias de pacientes do Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira e como a loucura faz parte de suas vidas


Por Camile Kogus

O que determina se uma pessoa sofre da loucura? Qual é a linha que separa quem tem sanidade em perfeito estado, daqueles que vivem, pensam e agem de uma forma fora do normal? Essas são perguntas que o documentário "A Loucura Entre Nós" não pretende sanar. O objetivo da obra da diretora Fernanda Vareille parece ser o de fazer com que o espectador não veja o “louco”, mas, sim, que seja o “louco”. 

Sem qualquer anestesia, o filme traz a tona um debate que parece ter sido esquecido entre a sociedade, ou apenas empurrado para debaixo do tapete. Em um golpe forte e sem piedade, a obra inicia-se mostrando os pacientes do Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira através das grades. O que se vê e ouve são pessoas que parecem viver em um lugar apenas delas. Às vezes por faltar um lugar para si na sociedade. Às vezes por faltar um lugar para a sociedade dentro de si. 

As cenas em seguida parecem ditar um debate interno na mente dos espectadores. Na mescla das histórias dos pacientes, o documentário revela a vida de pessoas que deixaram a angústia sair detrás da máscara da normalidade e que agora tentam, de algum modo, achar um jeito de voltar ao cotidiano, seja sarando suas angústias, ou reaprendendo a escondê-las. O espectador começa então uma jornada pelos desafios que os que são tachados como loucos passam diariamente. 

A falta de um lugar para si, o relacionamento complicado com familiares, o julgamento da sociedade e o abandono são apenas alguns dos empecilhos apresentados nessa trajetória. Nos últimos minutos de documentário, quando a paciente Elizangela fala a frase “O hospital psiquiátrico é isso, é loucura. Somos todos loucos uns pelos outros”, é impossível não se sentir parte desse mundo onde os limites da sanidade parecem ficam fracos perante as cobranças do mundo. No fim, o ditado “de médico e louco todo mundo tem um pouco” parece explicar perfeitamente o modo como aqueles personagens vivem. Perdidos em suas loucuras, mas buscando a cura uns nos outros. 

A obra 

A obra, que estreou na quarta edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, levou cerca de três anos para ser produzido. Segundo Amanda Graciole, produtora do filme, conta que a equipe teve muito cuidado em todas as etapas de produção. 

Diretora e produtor de "A Loucura Entre Nós". Foto: Camile Kogus. 
”A gente teve algumas dificuldades. Afinal, é fácil você entrar em um hospital e ser aceito pelos funcionários e também pelos pacientes. Então tudo foi feito com muito cuidado e paciência. Nós tivemos orientação do corpo médico e dos assistentes sociais e tudo mais, e sempre tivemos muita cautela pois estávamos lidando com seres humanos, com histórias reais”, afirma a produtora. 

Ela completa explicando que a experiência de mostrar a vida de pacientes de um hospital psiquiátrico acabou por mudar não só a vida dos personagens, mas também da equipe do documentário. “Todos os dias, quando a gente terminava as gravações, nós discutíamos todos os sentimentos que a gente sentiu. E eu tenho certeza que ninguém saiu igual dessa experiência, nós começamos a ter olhares diferentes”.

O documentário foi inspirado no livro "A Loucura Entre Nós", do psicanalista Marcelo Veras e foi concluído em março deste ano. Assim que foi finalizado, a equipe viu na quarta edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba uma oportunidade de lançá-lo mundialmente.

“Participar de um festival como esse, no qual se reúnem jornalistas, críticos e curadores tão interessantes é importantíssimo para a gente entender quais são nossos pontos fortes e fracos, quais são os caminhos que o filme pode fazer, e para a carreira de toda a equipe que participou da produção”, relata Beto Mettig, pós-produtor do documentário.

Os planos da equipe de produção agora é participar de outros festivais de cinema para divulgar a obra e também realizar um lançamento em Salvador, onde ela foi gravada. Já em agosto, o filme será exibido na primeira edição do Pirenópolis.doc – Festival de Documentário Brasileiro, que será realizado entre os dias 6 e 9 na cidade de Pirenópolis, Goiás.

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